O que fazer com o ENEM?
Por Nonato Furtado
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Estudo errado – Gabriel O Pensador
Não é difícil lembrar aquele conteúdo que você estudou e ficou se perguntando (ou perguntou ao professor) qual a serventia dele para sua vida. Na verdade, poucas vezes, conseguimos identificar fenômenos químicos, físicos, biológicos, históricos, sociais, dentre outros, em nosso cotidiano. Em outras palavras, no geral, não conseguimos estabelecer uma relação entre aquilo que aprendemos na escola com nossas atividades corriqueiras. Mas, o que tudo isso tem a ver com o ENEM?
Durante muito tempo no nosso país, a única forma de ingresso no ensino superior eram os vestibulares tradicionais cujas provas tinham como foco principal os conteúdos. Embora tivéssemos diferenças de abordagens que variavam de acordo com a universidade, o que se percebia (e ainda se percebe) em alguns vestibulares é que não havia uma relação do conteúdo cobrado nas provas com questões práticas do cotidiano.
Para ficar mais claro, posso dar alguns exemplos disso. Começo pela minha área: linguagem. Estamos imersos em um universo de práticas letradas e nos deparamos com diferentes textos todos os dias: ao ver a televisão, ao ligar o computador, ao sacar dinheiro no caixa eletrônico, ao comprar um celular novo, ao receber um encarte promocional de uma loja, ao ouvir uma música, ao ver uma charge em o jornal, na sala de espera do consultório, na parada de ônibus, dentre outros. Em todos esses contextos, nos são exigidos níveis e formas diferentes de leitura (letramentos múltiplos). Assim, não faz muito sentido um professor de língua portuguesa ficar o ano todo trabalhando questões gramaticais (me perdoem os gramatiqueiros de plantão), embora elas sejam necessárias, sem contemplar o uso prático da língua no nosso dia a dia; sem abordar questões de leitura, interpretação e produção textual.
Esse fato também ocorre em todas as outras disciplinas. Embora seja importante e justo ressaltar que há muitos professores que conseguem contextualizar os assuntos trabalhados para além das provas da escola. É justamente sobre essa ferida que a música do Pensador põe o dedo: a decoreba. O fato de os estudantes terem que decorar determinados conteúdos sem conseguirem entender seu uso.
Retomando a questão do ENEM, ainda estamos na polêmica de anular ou não a prova. Além do “anula ou não anula”, é necessário enxergar questões bem mais complexas sobre a educação brasileira nesse contexto. O ENEM sinaliza um novo modelo de educação que está além dos conteúdos, embora estes sejam indispensáveis para a prova. O foco principal do exame está nas habilidades e competências. Isso leva em consideração o conhecimento de mundo do estudante, suas vivências, sua cultura e parte de questões práticas de uso do conhecimento elaborado.
Não podemos cair no erro de pensar que os vestibulares tradicionais são mais interessantes que o ENEM para a nossa educação por conta dos erros de impressão e de gerenciamento da aplicação da prova em alguns locais, isso seria um lastimável retrocesso. Embora, seja importante destacar que esse tipo de erro seja inadmissível para uma prova dessa envergadura.
Assim sendo, ficamos na torcida que as questões trabalhadas nesse tipo de exame sejam mais corriqueiras em nossas escolas. Melhor que isso, que tenhamos uma educação de qualidade ao ponto de não estranharmos quando uma prova nos cobre a aplicação de determinados conteúdos vistos na escola em nosso cotidiano.
http://nonatofurtado.blogspot.com/
Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Estudo errado – Gabriel O Pensador
Não é difícil lembrar aquele conteúdo que você estudou e ficou se perguntando (ou perguntou ao professor) qual a serventia dele para sua vida. Na verdade, poucas vezes, conseguimos identificar fenômenos químicos, físicos, biológicos, históricos, sociais, dentre outros, em nosso cotidiano. Em outras palavras, no geral, não conseguimos estabelecer uma relação entre aquilo que aprendemos na escola com nossas atividades corriqueiras. Mas, o que tudo isso tem a ver com o ENEM?
Durante muito tempo no nosso país, a única forma de ingresso no ensino superior eram os vestibulares tradicionais cujas provas tinham como foco principal os conteúdos. Embora tivéssemos diferenças de abordagens que variavam de acordo com a universidade, o que se percebia (e ainda se percebe) em alguns vestibulares é que não havia uma relação do conteúdo cobrado nas provas com questões práticas do cotidiano.
Para ficar mais claro, posso dar alguns exemplos disso. Começo pela minha área: linguagem. Estamos imersos em um universo de práticas letradas e nos deparamos com diferentes textos todos os dias: ao ver a televisão, ao ligar o computador, ao sacar dinheiro no caixa eletrônico, ao comprar um celular novo, ao receber um encarte promocional de uma loja, ao ouvir uma música, ao ver uma charge em o jornal, na sala de espera do consultório, na parada de ônibus, dentre outros. Em todos esses contextos, nos são exigidos níveis e formas diferentes de leitura (letramentos múltiplos). Assim, não faz muito sentido um professor de língua portuguesa ficar o ano todo trabalhando questões gramaticais (me perdoem os gramatiqueiros de plantão), embora elas sejam necessárias, sem contemplar o uso prático da língua no nosso dia a dia; sem abordar questões de leitura, interpretação e produção textual.
Esse fato também ocorre em todas as outras disciplinas. Embora seja importante e justo ressaltar que há muitos professores que conseguem contextualizar os assuntos trabalhados para além das provas da escola. É justamente sobre essa ferida que a música do Pensador põe o dedo: a decoreba. O fato de os estudantes terem que decorar determinados conteúdos sem conseguirem entender seu uso.
Retomando a questão do ENEM, ainda estamos na polêmica de anular ou não a prova. Além do “anula ou não anula”, é necessário enxergar questões bem mais complexas sobre a educação brasileira nesse contexto. O ENEM sinaliza um novo modelo de educação que está além dos conteúdos, embora estes sejam indispensáveis para a prova. O foco principal do exame está nas habilidades e competências. Isso leva em consideração o conhecimento de mundo do estudante, suas vivências, sua cultura e parte de questões práticas de uso do conhecimento elaborado.
Não podemos cair no erro de pensar que os vestibulares tradicionais são mais interessantes que o ENEM para a nossa educação por conta dos erros de impressão e de gerenciamento da aplicação da prova em alguns locais, isso seria um lastimável retrocesso. Embora, seja importante destacar que esse tipo de erro seja inadmissível para uma prova dessa envergadura.
Assim sendo, ficamos na torcida que as questões trabalhadas nesse tipo de exame sejam mais corriqueiras em nossas escolas. Melhor que isso, que tenhamos uma educação de qualidade ao ponto de não estranharmos quando uma prova nos cobre a aplicação de determinados conteúdos vistos na escola em nosso cotidiano.
http://nonatofurtado.blogspot.com/
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