Quais os nossos maiores resultados?
Essa última semana deixou muitos corações cearenses apreensivos, pois era data da divulgação do resultado final do vestibular 2010 da UFC. Muitas pessoas, depois de se submeterem à segunda fase do vestibular, devoraram apressadamente o tempo para saber a notícia. Outros fingiram que nem fizeram a prova e não conferiram o resultado, mas aguardaram a notícia, boa ou ruim, num tipo de felicidade clandestina. Outros, nem conseguiram dormir direito imaginando o impacto do resultado da prova nos seus planos futuros.
Foi nesse caleidoscópio de sensações que se envolveram muitos dos estudantes dos pré-vestibulares do Programa de Educação em Células Cooperativas – PRECE. Todas as nossas EPCs – Escolas Populares Cooperativas tiveram seus estudantes envolvidos nesse processo. Esse sentimento é uma metonímia (parte pelo todo) porque não só os vestibulandos, mas juntos com eles, seus pais, seus irmãos e toda sua família compartilham direta ou indiretamente desse resultado.
Todos os anos, o PRECE acomoda os estudantes que saem do interior para prestar vestibular. Isso implica no envolvimento de muitos universitários que compõem a equipe de apoio ao estudante, que todos os anos dá um suporte completo de hospedagem, alimentação, acompanhamento psicológico e ajuda no deslocamento aos locais de prova. Não só os universitários se envolveram, mas outras pessoas amigas, professores da universidade. Enfim, muita gente
Logo após a divulgação da CCV – Coordenadoria de Concursos e Vestibulares, as cenas em muitas famílias foram bem heterogenias: a estudante que chorou decepcionada, em soluços, na solidão de seu quarto; o rapaz que virou algumas noites em “bebemoração” com os colegas; o outro que fez muitas orações agradecendo a Deus pela vitória; a moça que agora terá que trabalhar porque já não pode continuar “só estudando”; o cara que nem esperava ser aprovado e chorou de alegria pelo resultado inusitado; a outra que resolveu meter a cara nos livros assim que soube do resultado negativo; os facilitadores vaidosos pelos resultados dos estudantes; o estudante que agora contará as horas para provar da feijoada com suco de amarelo do RU - Restaurante Universitário; a menina que se engasgou com um pedaço de tristeza e emudeceu e o pai que soube da boa notícia lá no roçado e seus olhos se encheram de sol, mais um filho na universidade.
Também foi uma semana em que a mídia vendeu muitos espaços às escolas para divulgação dos resultados. Foram páginas e páginas com apresentação de fotos dos estudantes e suas colocações. Comerciais divulgados na TV em horário nobre, vinhetas convidativas e emocionantes para o rádio. Foram tantos primeiros lugares que, mesmo à vista grossa, eles superam o número de cursos existentes. São coisas, no mínimo, intrigantes.
Foram muitas as aprovações dos estudantes do PRECE. Mais de 50 (cinqüenta) estudantes oriundos da escola pública e filhos da classe popular que ingressaram na UFC. Esse resultado é muito impactante, principalmente quando se conhece a história de vida dos aprovados. São excelentes resultados, mas esses ainda não são nossos maiores resultados. Pois, por incrível que pareça ingressar na universidade não implica em desenvolvimento local, não implica necessariamente em mudança social, em transformação de vidas. Assim, não são nossos maiores resultados. Então, quais os nossos maiores resultados? A pergunta é muito boa e pode ter muitas respostas. Assim, destaco algumas: o ingresso na universidade é somente uma travessia necessária, mas ela necessita de movimentos vetoriais. Ou seja, o retorno às comunidades é que faz a diferença no PRECE. O envolvimento, a troca de conhecimentos e experiências dos que chegam à universidade e o comprometimento com muitos de nossos mais de 20 (vinte) projetos distribuídos nas áreas de educação formal, desenvolvimento econômico, controle social e governança.
As aprovações no vestibular não deixam de ser importantes e os que não conseguiram dessa vez, podem estar cientes de que ela será só uma conseqüência desse processo. No entanto, nossos maiores resultados talvez não sejam mensuráveis. Eles passam despercebidos diante de muita gente. Mas, mesmo imperceptíveis eles estão colaborando para a transformação de Pentecoste e de muitas outras cidades onde o PRECE atua. Com esse trabalho, estamos lutando para a construção de uma nova sociedade, de uma nova cidade, para a construção do município que queremos.
Por Nonato Furtado
Formação em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA e Letras pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Atua como professor de Literatura e Espanhol em projetos de Extensão da UFC e em escolas particulares de Fortaleza. Escreve contos, crônicas, e envereda pela poesia.
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