Crônica de domingo: Memórias da infância na Quixaba
“de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida”
(Trecho do livro Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto)
Na foto minhas irmãs: Antonia Edileide, Antonia Edilene, Maria de Fátima e Eu
Meu presente me remonta a década de 1990, época de chegadas e partidas. Antes de começar eu preciso ir até 1983, ano de uma das maiores secas do século passado. Foi nesse ambiente na pequena comunidade de Quixaba, interior de Canindé, que eu vim ao mundo. Ali começava a luta pela sobrevivência.
Sou o segundo de nove filhos, dos agricultores Joaquim Barros e Francisca Moura. Os dias não eram fáceis e a fome era nossa companheira diária naquela pequena casa de taipa, feita em um terreno emprestado do meu avô. Mas, como diz Euclides da Cunha “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Foi com essa fortaleza que, não tendo mais alternativas para permanecer naquele torrão querido, fugimos as pressas do maior fantasma que já tive o desprazer de conhecer.
Naquele ano de 1994, não vendo mais perspectiva de permanecer ali, resolvemos recorrer a duas tias que já moravam e trabalhavam em Pentecoste. Com o amor que é peculiar a gêneses, elas conseguiram um caminhão pau-de-arara e mandou nos buscar. Quando aquele caminhão passou o último mata burro que dava acesso a BR-020, eu já sentia o ar da brisa soprando diferente.
Hoje me veio a lembrança daquele mês de julho de 1994 e me veio a lembrança do chão sofrido, a poeira batendo na cara, eu lembro de cada gemido do velho pau de arara. Era sede e dor, fome e desespero, em meio a tudo um sorriso, que durava quase o dia inteiro.
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